sábado, 29 de maio de 2010

Eu e a Cena (tentando aprender com as provocações)

Estou em cena.

Meus pés tocam o chão, sem senti-lo. Meus olhos procuram algo para ver, não vejo. Perco a consciência do meu corpo, não estou entregue, não estou integrado nas minhas ações, na trajetória do jogo. Sou um espectador distante, ditando as regras, determinando caminhos, estabelecendo resultados. Tudo é visto e lido pelo espectador, a minha resistência, defesa e julgamentos.

Aprendo que a cena não é o lugar para se perguntar: "Sou ator? Não sou ator?", a cena é o lugar para ser e estar, para escutar, responder, se colocar em relação, conectar. É preciso confiar no espaço do risco, se permitir ao erro, transformá-lo pela aprendizagem. Qual é o teatro certo? O melhor teatro? O mais necessário e precioso? Perguntas que não devem ser respondidas pelo artista, porque não movem a base do seu trabalho, não é o seu ponto de chegada, o eldorado a ser conquistado.

Ser artista e não ser escravo de uma forma, vassalo de uma idéia, não ser impositivo com as crenças, com o jeito de se fazer, com o "assim é que tem que ser", com o meu teatro. O meu teatro não é, e nunca será, melhor que o teatro(S). O teatro das muitas possibilidades, dos muitos manifestos, plural – quero aprender a dançá-lo. A cena é o espaço da aprendizagem, aprendo que preciso aprender sem culpa, com o erro – que é poesia, que também é da natureza do teatro e da vida. Aprendo a necessidade de aprender a encontrar no outro não os seus pensamentos sobre o que sou e faço, o que o outro pensa e sente sobre o que faço não me pertence, o outro tem todo o direito de formular sobre mim as suas verdades, mas eu não tenho o direito de transformar as minhas verdades sobre as verdades dos outros em absolutas. O primeiro passo a ser dado em cena é confiar no olhar do outro, mesmo quando vem com o desafio, julgamentos, um olhar que torce contra, que pretende ferir, não ter melindres e receios para este olhar. A confiança no outro começa pela confiança em si. É o que me falta para estar em cena. Confiar – em mim, na cena, no processo, no outro. A confiança é responsabilidade minha, se eu não confio é por não ser confiável. Enquanto existir um deus superior e absoluto, o certo, a obediência, o julgamento se fará interruptor da expressão, mas quando existir o vazio, sem formas e conceitos, o não medo do enfrentamento e atravessamento, então o julgamento poderá ser transformado em ferramenta - em não julgamento - da expressão.

Não abandonamos a nossa história, não enterramos o passado, nada é tão só bom ou ruim, a poesia está em transformar. Como eu transformo a vontade de matar em dança sensível, amorosa e delicada? Entre tantos outros desafios, o teatro me convida para este.

Pensei em me abandonar no teatro, em interromper a minha trajetória enquanto ator/intérprete..., sim este seria o caminho mais fácil. Mas percebo que este não é um pensamento aliado das minhas necessidades deste instante. Esperar do outro a melhor crítica sobre o melhor do meu teatro é me fechar para a provocação que me leve ao estado da transformação. Como suportar ouvir e compreender? Responder a crítica com a ação, esvaziar a cabeça dos ressentimentos, e agir, atuar, não se abandonar na primeira queda, se permitir cair sempre, é caindo que se aprende a levantar, a caminhar, a cair aceitando e aprendendo a queda. Um ator não responde com a desistência, ele amadurece, se alia aos erros, se permite aos pontos de vistas possíveis, ainda que o machuquem, o provoquem, então ele coloca a ferida em cena, convoca a dor e deixa a cena dançá-las. É se despindo para o acontecimento, que eu participo do acontecimento, que eu aconteço enquanto expressão do acontecimento.

"Para existir basta abandonar-se ao ser

mas para viver

é preciso ser alguém

e para ser alguém

é preciso ter um OSSO,

é preciso não ter medo de mostrar o osso

e arriscar-se a perder a carne." Antonin Artaud

Como me desconceitualizar?

Rafael Guerche, São Paulo em 29 de maio de 2010, sobre a aula do dia anterior com Antônio Rogério Toscano na Escola Livre de Teatro

sexta-feira, 28 de maio de 2010

The Art of Suzuki Actor Training

amélia pós-moderna

logo cedo eu desperto...
fiquei na cama com o mijo na bexiga por mais duas horas após o despertar do meu celular.( a preguiça teima em ser minha amiga)
a casa tá uma bagunça! ( pensei, e logo levantei com um gosto amargo na boca).
liguei pro meu amante: você vem pro jantar? ( ele respondeu-me que não, que iria dar um rolê - e isso já é uma prática indissociável de todas as suas práticas...)
antes que eu esqueça da casa, que tava uma bagunça, volto-me para ela e lavo louça, fogão,chão; arrumo cama e guardo os lençóis que há muito não se esquenta com o nosso amor(...)
há duas festas hoje - a minha e a dele!
e não costumamos frenquentar a festa do outro.( também não dormimos do mesmo lado da cama).
arrumo minha mochila: roupas brancas e negras, já premeditando a festa logo mais a noite.
deparo-me numa epifania trocando os cadarços do meu allstar-escuro: troquei os cadarços que eram brancos, pelos originas, que são escuros. observei-me num estado de nostalgia, molhado em lágrimas, que também molharam todo o tênis... eu saí na manhã fria de São Paulo com os pés garoados de lágrimas. mas antes, eu teria um encontro com a bela dona de Modigliani. ela não usa salto alto, adora allstar, mas quer me ver feito um cavalheiro de chapéu sobre a cabeça.

umelmo.blogspot.com

quarta-feira, 26 de maio de 2010

um bife de hamlet

logo cedinho caminho noir
numa manhã fria
no interior de um quarto revestido de branco e sem chão.
há apenas um "fio estreito, esticado feito corda bamba" e nele me equilibro
alguém vestido de branco e que se confunde com a cor do ambiente me oferece um bife mal-passado - eu mordo o bife, machuco a língua.
na segunda dentada percebo que o bife que vinha na bandeja era minha língua.
o alguém se voltou em minha direção e pediu que eu degustasse o bife-minha-língua
num estado Hamletiano.
e mesmo mordendo a língua, as palavras deviam ecoar imantadas de sensação.( não de dor. de sensação)
isso fez com que eu me descuidasse do fio sob meus pés (assim, o equilíbrio)
e logo me veio a lembrança e o perigo da queda (o desequilíbrio)
uma carcaça de "sombrinha erguida" à mão direita era minha única salvação!
isso me deixou na dúvida: pular confiando na sombrinha sem pano ou continuar expurgando minhas sensações, imerso em mim..."eis a questão"
(acordei nauseabundo e com dor na cervical!)

umelmo.blogspot.com

sábado, 15 de maio de 2010

idiossincrasias ou maneirismos?

Tudo noir-noir!
e no ar... o frio. meu corpo-memória doía com os excessos de preparação corporal donde há pouco saíra. no ônibus, minha vontade de chegar em casa e correr para o aconchego do chuveiro era maior que qualquer outro desejo... e assim o fiz após uma hora de espera no bendito terminal em que tardam os lotações justo quando eu os espero. Na espera incessante lembrei do encontro com Medéia na manhã seguinte, e que não conseguiria dormir, preocupado com o que usar.
sabia que o encontro me poria à prova com minhas idiossincrasias e não saberia qual delas vestir nem qual delas me apropriar no momento preciso do desnudamento... ( e Medéia mataria cada particularidade viciosa.
É sempre confuso, para mim, saber que máscara tirar e qual deva permanecer como representação de minha essência.
fico desnudo de todas elas embalado pelo ritmo do espaço-tempo ( tudo desacelerou), ocorreu -me a sensação de um largo tempo em apenas alguns minutos. Meu corpo estava numa outra atmosfera. numa dimensão ainda não experienciada. Tive que descobrir em mim a força, o movimento, a clareza e o abismo que havia na imagem de uma só palavra. ( e foram inúmeros os momentos que me encontrei pendurado sobre o penhasco das palavras; feito um “bailarino destemido na corda bamba pairando sobre o abismo”). vi-me perdido, vi-me encontrado, vi-me desajustado naquele universo. Um universo vazio em que o silencio entre uma palavra e outra era suscitado pelo desnudamento de todas as máscaras , na busca da sensação ,partindo do âmago. E quem não tem essência, como fica? Encontra algo em si? ( pensei comigo)
Resolvi encontrar poesia no espaço entre uma palavra e outra numa evocação do silêncio do meu corpo ionizado, o qual continha uma energia forte, desconhecida. O fluxo da minha consciência estava empenhado em que não houvesse ainda fluxo algum, e assim teria que ser, para que não percebessem escolhas, e, somente depois, a escolha desse fluxo-negativo fosse compreendida como uma escolha de fato, e não algo alheio à minha consciência. Decidi então entrar naquele universo desconhecido , sem escolhas ,e percebi, gradativamente, que escolha faria a posteriori...
desafiei-me no feito e me provoquei com palavras; impressões se fizeram de expressões no meu íntimo como pinceladas de algum artista que não presa a forma pela forma e nem por um conteúdo abstrato e indecifrável e contudente – agora tudo dependia de tudo , forma-conteúdo-conteúdo-forma, coabitando, pelo menos foi o que minha percepção inscreveu.
“ uma palavra é o texto inteiro” – disse-me a percepção. Foram de tais pressupostos que meu pensamento insurgiu-se de vontades, provocado por imagens pertencentes ao meu interior . minha boca salivou metamorfoseando a palavra: primeiramente introjetada e depois projetada, sem pressão e com o volume correto no espço-tempo-acontecimento - clara e solar. Re conheci, Des-cobri e desencobri palavras. Agora o desencobrimento de mim.posso agora pintar sobreposições de idéias, de amores, de sensações, de pontos de partidas e chegadas e tudo que demanda de minha entranha em prol do quadro branco que é meu corpo-sensação.

www.umelmo.blogspot.com

sábado, 8 de maio de 2010

A CANÇÃO DE UM GUERREIRO





Andei, Andei, Andei
Eu subi até a Lua
Voei, Voei, Voei
E ganhei as estrelas do céu

quinta-feira, 6 de maio de 2010

H2O