sábado, 15 de maio de 2010

idiossincrasias ou maneirismos?

Tudo noir-noir!
e no ar... o frio. meu corpo-memória doía com os excessos de preparação corporal donde há pouco saíra. no ônibus, minha vontade de chegar em casa e correr para o aconchego do chuveiro era maior que qualquer outro desejo... e assim o fiz após uma hora de espera no bendito terminal em que tardam os lotações justo quando eu os espero. Na espera incessante lembrei do encontro com Medéia na manhã seguinte, e que não conseguiria dormir, preocupado com o que usar.
sabia que o encontro me poria à prova com minhas idiossincrasias e não saberia qual delas vestir nem qual delas me apropriar no momento preciso do desnudamento... ( e Medéia mataria cada particularidade viciosa.
É sempre confuso, para mim, saber que máscara tirar e qual deva permanecer como representação de minha essência.
fico desnudo de todas elas embalado pelo ritmo do espaço-tempo ( tudo desacelerou), ocorreu -me a sensação de um largo tempo em apenas alguns minutos. Meu corpo estava numa outra atmosfera. numa dimensão ainda não experienciada. Tive que descobrir em mim a força, o movimento, a clareza e o abismo que havia na imagem de uma só palavra. ( e foram inúmeros os momentos que me encontrei pendurado sobre o penhasco das palavras; feito um “bailarino destemido na corda bamba pairando sobre o abismo”). vi-me perdido, vi-me encontrado, vi-me desajustado naquele universo. Um universo vazio em que o silencio entre uma palavra e outra era suscitado pelo desnudamento de todas as máscaras , na busca da sensação ,partindo do âmago. E quem não tem essência, como fica? Encontra algo em si? ( pensei comigo)
Resolvi encontrar poesia no espaço entre uma palavra e outra numa evocação do silêncio do meu corpo ionizado, o qual continha uma energia forte, desconhecida. O fluxo da minha consciência estava empenhado em que não houvesse ainda fluxo algum, e assim teria que ser, para que não percebessem escolhas, e, somente depois, a escolha desse fluxo-negativo fosse compreendida como uma escolha de fato, e não algo alheio à minha consciência. Decidi então entrar naquele universo desconhecido , sem escolhas ,e percebi, gradativamente, que escolha faria a posteriori...
desafiei-me no feito e me provoquei com palavras; impressões se fizeram de expressões no meu íntimo como pinceladas de algum artista que não presa a forma pela forma e nem por um conteúdo abstrato e indecifrável e contudente – agora tudo dependia de tudo , forma-conteúdo-conteúdo-forma, coabitando, pelo menos foi o que minha percepção inscreveu.
“ uma palavra é o texto inteiro” – disse-me a percepção. Foram de tais pressupostos que meu pensamento insurgiu-se de vontades, provocado por imagens pertencentes ao meu interior . minha boca salivou metamorfoseando a palavra: primeiramente introjetada e depois projetada, sem pressão e com o volume correto no espço-tempo-acontecimento - clara e solar. Re conheci, Des-cobri e desencobri palavras. Agora o desencobrimento de mim.posso agora pintar sobreposições de idéias, de amores, de sensações, de pontos de partidas e chegadas e tudo que demanda de minha entranha em prol do quadro branco que é meu corpo-sensação.

www.umelmo.blogspot.com

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